Tropas iraquianas e milícias xiitas estão obtendo avanços significativos em seus esforços para retomar Tikrit, cidade 150 km ao norte de Bagdá e controlada desde junho pelo grupo autodenominado “Estado Islâmico (EI)”. Conforme se aproximam da cidade, soldados estão substituindo as bandeiras pretas fincadas por extremistas por estandartes pró-governo. Veja quais são os dez grupos terroristas mias ricos do mundo
Cidade natal do ex-presidente Saddam Hussein, Tikrit tem valor estratégico. A ofensiva iraquiana tenta expulsar o “EI” do importante centro urbano e reduzir o território do grupo extremista, em uma prova de fogo para uma operação ainda maior: a retomada de Mossul, que o “Estado Islâmico” chama de “capital” de seu califado.
Em curso há quase uma semana, a ofensiva em Tikrit tem sido retardada, porque os extremistas têm plantado bombas e minas em estradas e explodido poços de petróleo para gerar fumaça e atrapalhar a ação das tropas iraquianas.
Além disso, já há uma crise humanitária em curso. Segundo a ONU, até quinta-feira (5), cerca de 28 mil civis haviam sido forçados a abandonar a cidade. A ofensiva militar lança luz sobre duas grandes incertezas, opina Michael Knights, pesquisador do Washington Institute for Near East Policy e especialista em forças de segurança do Iraque. Nesse cenário, ainda restam algumas dúvidas: as tropas iraquianas, predominantemente xiitas e voluntárias, conseguirão ter um papel produtivo nas operações dentro das comunidades sunitas? E o Exército iraquiano pode, sozinho, expulsar os militantes do EI de suas fortalezas urbanas?
Irã O ataque em Tikrit é realizado principalmente pelas Forças Armadas iraquianas e por brigadas voluntárias e milícias – chamadas Unidades Populares de Mobilização Xiita, ou PMU na sigla em inglês – que foram formalmente integradas às forças de segurança desde junho de 2014, explica Knights.
O único grupo ausente foi a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
Nenhum pedido por ataques aéreos da coalizão foi feito pelo governo iraquiano, algo normal em operações do tipo. As PMUs são comandadas por Abu Mahdi al-Muhandis, considerado pelos Estados Unidos como “um terrorista global” por seu envolvimento em ataques contra tropas americanas. Ele e outros comandantes da PMU são próximos à Guarda Revolucionária do Irã e continuam a atrair conselheiros iranianos e do grupo libanês Hezbollah para suas operações. O general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas americanas confirmou que as operações em Tikrit têm o apoio “declarado do Irã, na forma de artilharia e outras coisas”, afastando os EUA da ofensiva. Desafio logístico Knights lembra também que, ainda que Tikrit já esteja em grande parte vazia, o comportamento das milícias xiitas PMU – que não estão submetidas às medidas disciplinares do Exército iraquiano – será observado de perto em seu esforço para expulsar os combatentes do “EI” de comunidades predominantemente sunitas. Se a ofensiva em Tikrit for bem-sucedida, o Iraque poderá repeti-la na grande cidade sunita de Mossul, também com a ajuda de milicianos – o que novamente pode repelir a ajuda estrangeira à operação. Também não há garantias de que a população de Mossul – 65% dela sunita – verá com bons olhos a entrada de milícias xiitas. Mas, em Mossul, as incertezas logísticas são ainda maiores: enquanto a pequena Tikrit está perto de Bagdá e das regiões operadas pelas tropas iraquianas, Mossul é uma cidade grande, com cerca de 750 mil moradores atualmente sob o comando do EI, e está a 350km da capital e distante dos postos avançados do Exército. Exército e arqueologia Esses desdobramentos podem dar mais força às ações das tropas oficiais iraquianas – estas sim apoiadas pelos EUA e mais respeitadas pela população de Mossul. É possível que o preparo para as operações nesta cidade seja lento e que as operações só comecem no meio do ano. Além disso, o Exército iraquiano continua empobrecido, contando com uma frente de combate de cerca de 48 mil homens, contra os quase 210 mil que tinha em seu auge, em 2009. Os combates em Mossul devem absorver grande parte desse contingente, o que, por sua vez, diminui a força do Exército na capital, afirma Knights. Enquanto isso, os combates continuam em Tikrit, e o EI avança na destruição do patrimônio arqueológico iraquiano.