Demora no ajuste pode deixar imposto mais alto, diz Levy

O Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta segunda-feira (23) que a Petrobras terá que se reinventar “ainda mais” após a queda dos preços dos commodities (produtos básicos com cotação internacional, como petróleo, minério de ferro e alimentos). Ele acrescentou que a estatal “é uma empresa que já mostrou que é capaz de se reinventar”.

levy_na_firjan“Resta pouca dúvida que há muita coisa para fazer na área de petróleo. A Petrobras está se reinventando, acho que ela tem que se reinventar ainda mais. É uma empresa que já mostrou que é capaz de se reinventar, e acho que se dermos espaço para ela respirar, tenho confiança que ela vai conseguir superar a fase atual e continuar fazendo coisas essenciais para o Brasil”, disse o ministro.

A declaração foi feita em evento no Rio de Janeiro, organizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), em parceria com a agência de risco Standard & Poor’s.

Levy destacou que a queda do preço das commodities tem afetado também empresas de outras áreas. “Tanto na parte de minério quanto na parte de óleo, a mudança nos preços dos commodities têm impacto importante”, afirmou.

De acordo com ele, esse momento é uma “grande oportunidade de a gente poder desenvolver uma porção de outros setores no Brasil e tornar ainda mais eficientes esses próprios setores”, concluiu.

Ajuste fiscal e aumento de imposto
O ministro da Fazenda declarou ainda que o ajuste fiscal está quase concluído “do ponto de vista intelectual”, contudo, as medidas precisam enfrentar a questão política, de votação no Congresso Nacional.

“Muita gente só pensa no ajuste fiscal. Acho que o ajuste fiscal é muito importante. Tendo em vista do ponto de vista intelectual, o ajuste fiscal está quase que concluído”, afirmou Levy.

O ministro avaliou que a meta de superávit primário (a economia para pagar juros da dívida pública) de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano que vem é “factível”, mas destacou a importância da aprovação sem demora no Congresso das medidas relacionadas ao ajuste fiscal e ao Orçamento 2016.

O governo tem enfrentado forte resistência para a recriação da CPMF, o imposto sobre transações financeiras, considerado crucial pelo governo para colocar as contas em ordem.

“O que não foi votado em outubro, vai ser votado sabe-se lá quando. Estamos perdendo meses de arrecadação. Isso talvez signifique que você vai ter que aumentar o imposto mais do que o desejado? Talvez. Ou você vai ter que cortar os gastos mais do que tinha planejado? Talvez”, disse ele. “Se você vai postergando as coisas, é óbvio que 0,7 ao longo de um ano é uma coisa, 0,7 ao longo de 8, 9 meses é muito mais difícil… Então, 0,7 é factível, mas quanto mais tempo demorar, mais difícil será”, concluiu.

Câmbio
O ministro afirmou ainda que há dois setores que podem trazer resposta rápida, “digo, em 2016”, ressaltou, influenciado pela valorização do dólar: o turismo e a indústria.

“São setores competitivos a nível internacional. O câmbio que está aí, o turismo pode ser um fator de crescimento, relativamente de curto prazo. O próprio setor de petróleo do Brasil pode ser bastante competitivo, mesmo com o preço do petróleo baixo.”

De acordo com ele, o setor de máquinas e equipamentos “pode desenvolver realmente uma liderança”. Ele completou ainda que a parte da aviação tem hoje também uma “posição bastante forte”.

Produtividade e política fiscal
O ministro afirmou, no entanto, que uma questão que se coloca é a estratégia para aumentar a produtividade. De acordo com ele, “se a gente não resolver as questões fiscais, se a gente não resolver questões do gasto, a gente continuará tendo problema com a política monetária, com os juros, em longo prazo”.

“A dificuldade disso é que, para o financiamento da nossa economia, se torna muito difícil dessa forma, porque os mecanismos tradicionais da produção estão esgotados. (…) o BNDES tem 60 anos, FGTS, a caderneta de poupança, tudo isso tem mais 50 anos, ou completa 50 anos, e quando a gente olha isso, tudo isso tem tamanho que já se esgotou”.

“Quando a gente olha no médio prazo, ou seja, a gente está pensando na retomada, a gente descobre que meramente viver da caderneta de poupança ou de outros depósitos compulsórios não vai acompanhar o crescimento do mercado imobiliário. (…) nessa nova arquitetura, que temos trabalhado o crédito livre, só vai acontecer se a gente tiver uma situação fiscal que permita que as taxas de juros a longo prazo caírem, o mesmo vale para o FGTS”.

“O Brasil cresceu demais, é uma boa notícia isso. Isso quer dizer que 50 anos depois, o Brasil é grande o suficiente para buscar novos mecanismos”, concluiu.

 

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