A ampliação da capacidade energética de Rondônia pode incorporar fontes sustentáveis e igualmente renováveis, a exemplo da hidrelétrica, prevê o professor Artur Moret, coordenador do Grupo de Pesquisa Energia Renovável Sustentável da Universidade Federal de Rondônia (Unir). Segundo ele, a abundância de recursos naturais aumenta a autossuficiência na produção de eletricidade.
Há mais de seis anos Moret pesquisa alternativas energéticas sustentáveis para o Estado. Sua experiência o leva a apontar oportunidades para melhorar o setor elétrico isolado. Doutor pela Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na qual foi premiado, ele exemplifica: “O coco babaçu é excelente gerador de eletricidade. Da casca obtém-se o papel; do mesocarpo fazemos o alimento humano; do coco fazemos o carvão; e da amêndoa, o óleo vegetal, a eletricidade e o sabonete. Com a sobra da amêndoa, fazemos ainda a ração animal”, citou.
O sistema interligado de Rondônia é formado por três usinas hidrelétricas (Samuel-216 MWs, Santo Antonio e Jirau, somando 6.500 MWs); 15 pequenas centrais hidrelétricas, com 31,7 MWs e duas unidades termelétricas (Termomorte, 340 MWs, e Eletronorte, 100 MWs). Em 2012, os 27 sistemas isolados consumiam 82 milhões de litros de diesel em 137 unidades geradoras, totalizando 71,7 MWs, segundo a Eletrobras.
O atendimento isolado é de responsabilidade da Eletrobras Distribuição Rondônia, entretanto esse mercado foi terceirizado para duas empresas. Estudos do professor Moret indicam ainda para Rondônia a geração de energia por meio da biomassa, utilizando-se resíduos florestais e de madeira, óleo vegetal – uso in natura e biodiesel.
JEITO DE FAZER
As primeiras experiências do Grupo de Pesquisa Energia Renovável Sustentável foram feitas na Reserva Extrativista do rio Ouro Preto, em Guajará-Mirim (fronteira brasileira com a Bolívia). Exposto para secar num jirau ao ar livre, o babaçu é quebrado e separado – a casca vai para a queima, a entrecasca para fabricação de farinha, a amêndoa produzirá o óleo, tanto para o biocombustível quanto o que será usado na produção de sabonetes, shampoo e cosmético. “Do bagaço ainda se produz o sabão de lavar roupa”, explicou a seringueira, Francisca Rodrigues.
O babaçu apresenta como vantagem adicional uma densidade 2,5 vezes maior e um teor de umidade menor, de 15% a 17%, enquanto o teor de umidade do bagaço de cana fica em torno de 50%. Cascas de babaçu armazenadas em um metro cúbico produzem 2,5 vezes mais energia do que o bagaço de cana e queimam melhor porque estão mais secas.
Francisca e o marido Napoleão conseguem uma safra de 20 quilos de amêndoas, o suficiente para a produção de 10 litros de óleo. A mistura ao óleo diesel movimenta a pequena usina de energia elétrica. A mini-usina foi montada em parceria com o Grupo de Energia Renovável e Sustentável da Unir.
Estudos da Unicamp estimam o custo/benefício, concluindo-se que a melhor alternativa é a produção de vapor de alta pressão a 4,56 Mpa (Mega Pascal) a 420 graus centígrados. Mega Pascal é uma unidade de pressão de fluidos, que pode ser genericamente traduzida por força sobre a área. O vapor de alta pressão alimenta turbinas para gerar energia elétrica.
Para o cientista, o aproveitamento dessas fontes energéticas – solar, biogás e do babaçu – promoveria o desenvolvimento socioeconômico e ambiental em todas as regiões. Também melhoraria a oferta de emprego e de renda.
O Grupo de Pesquisa Energia Renovável Sustentável, da Unir, coloca-se à disposição da sociedade e de interessados em projetos para quaisquer regiões do estado, informa o professor Moret.
Texto: Montezuma Cruz
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