Um problema que está se espalhando com velocidade maior do que o zika pelo mundo é a desinformação. Boatos disseminados via redes sociais e aplicativos de mensagem atrapalham os esforços de combate ao vírus, e autoridades de saúde se esforçam para debelá-los.
Muitas histórias já foram desmentidas, mas alguns boatos se relacionam a perguntas para as quais ainda não há resposta. Para complicar a situação, mesmo fontes de informação suspeitas às vezes espalham informação correta, o que torna mais difícil para os leigos saber em quem confiar.
O G1 selecionou aqui dez afirmações de proliferação rápida na internet e esclarece quais são verdade, quais são mito, e quais ainda são incertezas:
– O mosquito transgênico deu origem à epidemia de zika.
MITO
Sites conspiratórios divulgam uma história segundo a qual o mosquito transgênico da empresa Oxitec, um inseto estéril criado para neutralizar fêmeas do Aedes aegypti, originou um inseto capaz de transmitir o zika. A teoria por trás da afirmação é bastante tortuosa e vaga, afirmando que mosquitos estéreis sobrevivem e se tornam “monstros”. Conspiracionistas afirmam que bilionários americanos estariam por trás de um plano para aniquilar populações de países pobres.
A história não tem nenhum fundo de realidade. Alguns mosquitos da Oxitec (5%) de fato acabam gerando filhotes, mas não deixam prole de terceira geração. Mesmo que deixassem, o mosquito alterado não tem nenhuma diferença para aquele que é liberado. O zika se originou de macacos na África, e um mosquito não conseguiria gerar um vírus a partir do nada. Testes realizados até agora, além disso, indicam que a população de Aedes decresce, não aumenta, sob a presença do inseto transgênico.
– A microcefalia foi transmitida por vacinas de rubéola vencidas.
MITO
A vacina contra a rubéola é contraindicada para grávidas, e em nenhum caso registrado de microcefalia no Brasil gestantes relataram ter recebido o imunizante. A vacina é normalmente aplicada em crianças.
As autoridades de saúde no Brasil, além disso, fazem fiscalização para garantir o descarte de produtos médicos vencidos, e nenhum caso de aplicação de vacina vencida foi relatado durante o período de epidemia da zika. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, mesmo que a vacina vencida tivesse sido aplicada, o único problema é que ela não será eficaz contra a rubéola, e ela não oferece potencial de danos neurológicos.
– A microcefalia é transmitida por bactérias que cientistas inocularam em mosquitos.
MITO
Um projeto da Fiocruz usa bactérias do gênero Wolbachia para enfraquecer o Aedes aegypti e tem como objetivo atrapalhar sua disseminação. A Wolbachia é encontrada normalmente no ambiente, e não afeta humanos. Em outros lugares em que a tecnologia foi testada (Austrália, Vietnã e Indonésia), não houve aumento no número de casos de microcefalia.
– O zika causa danos neurológicos em crianças de até 7 anos e em idosos.
MITO
A microcefalia é um problema de desenvolvimento neurológico que ocorre em fetos e é diagnosticado em recém-nascidos. Não há evidência de que possa ocorrer em crianças de sete anos ou idosos. Essas duas faixas etárias, porém, requerem mais atenção para os sintomas de febre do zika, da mesma forma que muitas outras doenças infecciosas que por vezes são assintomáticas em adultos. Um possível problema neurológico pode ocorrer por síndrome de Guillain-Barré (veja questão sobre paralisia), que não é específica de crianças e idosos e ocorre também em adultos.
– O zika é transmitido na amamentação
INCERTEZA
O vírus já foi encontrado vírus em leite materno, mas nenhum caso suspeito de transmissão foi relatado. A Fiocruz e o Ministério da Saúde recomendam a amamentação como prática saudável e ela não deve ser desincentivada por causa da epidemia de zika, porque os benefícios superam os riscos.
– O zika é transmitido pelo beijo.
INCERTEZA
O vírus já foi encontrado em amostras de saliva, mas não se sabe se ele pode ser absorvido por esse meio por outra pessoa até chegar à corrente sanguínea. Ainda não existem casos suspeitos de infecção dessa forma.
– O zika é transmitido pelo sexo.
INCERTEZA
O vírus já foi encontrado em sêmen, e a literatura médica possui três registros prováveis de transmissão sexual do vírus. A OMS afirma que os trabalhos ainda não reuniram evidência suficiente, porém, para provar que essa forma de disseminação do vírus de fato ocorreu e que ela é preocupante. Mais estudos estão sendo feitos.
– O zika vírus causa paralisia.
INCERTEZA
A presença do zika é suspeita de elevar o número de casos da síndrome de Guillain-Barré, um evento relativamente raro que ocorre quando o sistema imune ataca o sistema nervoso, causando paralisia e outros problemas neurológicos. Estudos epidemiológicos estão sendo feitos para verificar se essa relação realmente existe, mas está claro que mesmo que o vírus esteja aumentando a incidência da síndrome, ela só ocorre em um número minoritário de casos entre infectados.
– A microcefalia vai se espalhar para todo o país.
VERDADE
O Nordeste do Brasil é considerado o epicentro do surto de microcefalia associado ao zika, mas um aumento relativo na incidência da doença também já foi notado em outros estados, com menor intensidade. A associação também já é suspeita em outros países da América Latina e no Pacífico. Nenhuma área habitada pelo Aedes aegypti, em princípio, está livre de ver casos de microcefalia associados ao zika no futuro, mesmo que não sejam muitos.
– É possível contrair zika e dengue ao mesmo tempo.
VERDADE
Já há registros de pacientes que contraíram as duas doenças em momentos diferentes e não há nada que impeça, em princípio, a infecção simultânea. Mesmo que as duas bactérias não estejam presentes em um mesmo mosquito, nada impede que alguém seja picado por dois mosquitos, cada um com um patógeno. Há ao menos um caso registrado de um homem que abrigou simultaneamente não apenas dengue e zika como também chikungunya na Colômbia.
Fonte – G1