Dois posseiros, um homem de 54 anos e outro de 29, foram atingidos por disparos de arma de fogo na noite da última sexta-feira (30) em Vilhena (RO), quando tentavam sair de uma fazenda que leva o nome do município. A Polícia Militar (PM) realizou buscas, mas não localizou os suspeitos. As vítimas foram levadas para o Hospital Regional.
Conforme o boletim de ocorrência registrado pela PM, uma testemunha que estava junto com os feridos relatou que eles trafegavam em uma caminhonete, com o intuito de ir para a cidade votar neste domingo (2). Quando chegaram à porteira da fazenda, eles avistaram outra caminhonete.
Ao perceberem que o veículo estava posicionado para impedir a saída do local, os posseiros (aqueles que trabalham na terra, mas não têm a titularidade do terreno) concluíram que se tratava de uma emboscada e realizaram uma manobra para tentarem fugir. Neste momento, os suspeitos começaram a atirar.
Segundo o relato, depois de vários quilômetros, os posseiros conseguiram despistar os suspeitos e ligaram para a PM de Chupinguaia (RO), que se deslocou para o local com 15 policiais. A vítima de 54 anos foi levada para o hospital com quatro tiros e o outro ferido com uma perfuração na região do tórax.
A PM realizou diligencias, mas os suspeitos já teriam fugido. A caminhonete das vítimas estava com vários tiros e foi encaminhada para a Delegacia de Polícia Civil de Vilhena (RO) para análise da perícia técnica. O estado de saúde atual dos alvejados não foi informado pelo Hospital Regional. O caso será apurado pelo Setor de Investigação da Polícia Civil (Sevic).
Conflitos agrários
De acordo com a PM, a fazenda Vilhena é uma área que sofre com invasões de posseiros há anos. Em entrevista ao G1, o tenente Rudinei Pogere explicou que a propriedade pertencia inicialmente a um homem que morava no Paraná (PR), porém ele faleceu e deixou para os herdeiros. “Os que receberam, venderam um lote para várias pessoas e assim foi sendo distribuída a terra. Porém, a área é muito grande, mais de 1mil hectares, e não foi habitada na mesma proporção”.
Desde então, os conflitos agrários começaram e no dia 17 de outubro de 2015 ocorreu o maiormassacre por disputa de terras do Estado nos últimos 20 anos, segundo a PM. No crime, cinco pessoas foram mortas, sendo quatro delas queimadas vivas, após um grupo se sentir inconformado com a decisão judicial que o retirava das terras que teria invadido.
Dos cinco acusados, três foram localizados e presos. Na audiência de instrução, a Justiça entendeu que para um deles não havia provas suficientes de autoria e postulou a denúncia do MP. Já os outros dois capturados foram a júri-popular em setembro deste ano e, devido também a insuficiência de provas que comprovassem a autoria, eles foram absolvidos.
Novos mandados
No dia 15 de setembro deste ano, a PM, Polícia Rodoviária Estadual (PRE) e outros órgãos de fiscalização compareceram à fazenda para cumprirem mandado de constatação, intimação, identificação civil e prisão para todos os posseiros que estivessem nos lotes 62, 63 e 64.
Na ocasião, foram encontrados motosserras, espingardas, 70 munições intactas calibre 22, 28, 32, 38 e 44, além de 25 munições deflagradas de calibre 29, 28, 3, 36 e 38 e vários equipamentos para recarga de cartuchos. A munição de pistola 44, inclusive, é de uso restrito, sendo vendido apenas com autorização do Exército.
“Na verdade, quando chegamos lá, não tinha uma associação tão formada como é de costume se encontrar em uma área invadida. O que a gente constatou foi que os lotes estavam divididos pelos posseiros irregularmente, mas poucos moravam no local. As evidências apontavam que a maioria estava lá com intuito de extrair madeira e vendê-las ilegalmente. De fora a fora tinha desmatamento”, relatou o tenente Rudinei.
Na ocasião, dez pessoas foram presas. Conforme a Polícia Ambiental, área devastada chega a 50 hectares. Foi aberto um inquérito policial e o caso está sendo apurado pelas autoridades.
Com informações do G1